segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Quem sabe a chuva trará


Em noites como a de hoje, percebo o quão incapazes somos de evitar algumas coisas na vida
São inexequíveis as ações que despendemos em certos ofícios
A chuva que cai lá fora, trazendo-me alegria ou tristeza, continuará caindo sem me consultar a vontade
As vidas que são levadas para longe de mim não me pedem anuência para partir
Sou completamente inútil nas decisões que abrangem o que me rodeia
Tantas vezes achei que estava no controle de minhas decisões quando, na verdade, elas foram acontecendo por uma lei natural que as levaram àqueles intentos
Não pensemos, contudo, que trata-se de destino
Na verdade, destino não passa de pretexto para a inércia
Mas eu gosto da inércia. Aliás, acho que vivo nela
Todos vivemos na inércia, mas há aqueles que não alijam a sinergia das consequências dela
Embora assim pensada, a inércia não é ruim
Fugir dela, aliás, é impossível
Há outra coisa a fazer senão esperar que a chuva passe?
Há outra coisa a fazer senão aceitar a morte?
Antes de aceitar a morte, contudo, é necessário que aceitemos todas as facetas que nos pertencem
A inércia mais necessária, mas pouco praticada, é essa: a roboração de nosso ser
Aqui, no entanto, não se trata da estagnação diante das derrotas
Diferente disso, refiro-me à capacidade de descobrirmos, em nós mesmos, todas as antíteses que carregamos e fazermos delas a desarmonia mais consonante possível
O grande problema disso tudo é querer escolher por uma coisa ou outra
Não acho que devamos escolher somente uma de nossas personagens quando podemos ser todas elas
Há tantos orgasmos que podemos experimentar com cada uma
Ao final de tudo, não dizem que morremos sem levar nada?
Pois que levemos a imagem de sermos muitos em um só, extremamente adaptáveis às incertezas e às limitações que nos são impostas a todo o momento
Afinal de contas, que vivamos numa inércia que valha a pena
Como sugeriu Manoel de Barros, que possamos nos conhecer experimentando ações que descrevam o nosso inverso
Só assim passaremos a olhar a chuva com jubilidade e a morte com olhos de quem sabe que tudo não passa de uma inevitável inércia a que todos, desde sua promanação, foram inevitavelmente submetidos
Além do mais, a chuva é só mais uma forma de expressar uma noite outrora enluarada
Ela é apenas uma das tantas personagens possíveis de sua própria inércia



THIANE ÁVILA.

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