domingo, 12 de outubro de 2014

Desabafo de uma estudante de engenharia num caso extraconjugal com as letras


                Quero simplesmente “letrar”. Submergir no mundo das palavras. Derivar não as funções matemáticas, mas o pensamento de meus autores em reflexões diretas de minha vivência diária e de minha situação enquanto ser pensante e agente do mundo. Quero integrar não como uma forma inversa de derivar, mas integrar as minhas noções e suposições modestas ao grande corpo de pensamentos da atualidade. Quero gerar assíntotas verticais que, ao invés de serem expressas em um plano cartesiano, ilustrem, na metáfora dos meus dias, os meus sonhos mais extravagantes. Quero que a ciência do meu ambiente planeje a sustentabilidade dos meus dias. Quero que a velocidade angular de minha trajetória seja não somente a razão de meu deslocamento e do tempo de que necessitei para realizá-lo, mas a consonância e a agregação de pessoas ao meu redor (e, desculpem os simpatizantes, não quero tantos números). Quero que o esboço de meu desenho técnico seja o mais imperfeito possível, pois quem se importa em delimitar linhas de uma vida sem limites? Escalas? Não quero escalas. Escalas são sinônimos de padrões e, definitivamente, eu não nasci para viver nos padrões. Não quero aprender que, através de uma reta, eu posso descobrir equações paramétricas, reduzidas, vetoriais ou gerais, mas sim que de reta a vida não tem nada. Aliás, eu sou talvez o oposto do que me vejam. Ou, quem sabe, como disse Manoel de Barros, “tem mais presença em mim o que me falta”. 
            E, pra finalizar, sabe do que eu tenho medo? Eu tenho medo de que, lá no final de tudo, eu olhe para trás com dor no peito por não ter arriscado mais. É clichê a fala que sugere a não desistência, a perseverança nos sonhos, mas é a autoajuda mais verdadeira de que tenho conhecimento. Embora não seja de unânime concordância, é de adesão da grande maioria o seguimento da vida com o levar de apenas coisas doces (na medida do possível e quando se tem escolha). Contudo, me vejo em uma situação bastante delicada desde que ouvi de um grande empresário brasileiro, no jornal local de minha região, que o jovem deve optar, primeiro, por aquilo que dá dinheiro. Ele, por exemplo, tornou-se, primeiro, um grande empresário para, depois, escrever e publicar uma dezena de livros que lhe traziam prazer ao escrever. Agora: será que aquele que faz engenharia está fadado à riqueza? Não sei. A mesma linha de pensamento carrego no que tange à minha amada Letras: estarão fadados todos os seus simpatizantes e estudiosos a uma condição sempre aquém de um indivíduo das exatas? Acho injusto. Acho injusta essa delegação de importâncias do mundo contemporâneo. Bando de matemáticos esses que organizaram o sistema social em que se vive. Afinal de contas, sou muito mais uma matemática em busca do plano perfeito (com todas as suas dimensões e possibilidades vetoriais distintas) que me levem, com o máximo de precisão e mínimo erro relativo, ao encontro de minhas amadas letras que, apesar de contáveis, seus números não representam a matemática, mas sim a poesia de possuírem uma sequência que número algum jamais terá a capacidade de expressar.



THIANE ÁVILA.

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