Quero simplesmente “letrar”. Submergir no mundo
das palavras. Derivar não as funções matemáticas, mas o pensamento de meus
autores em reflexões diretas de minha vivência diária e de minha situação
enquanto ser pensante e agente do mundo. Quero integrar não como uma forma
inversa de derivar, mas integrar as minhas noções e suposições modestas ao
grande corpo de pensamentos da atualidade. Quero gerar assíntotas verticais
que, ao invés de serem expressas em um plano cartesiano, ilustrem, na metáfora
dos meus dias, os meus sonhos mais extravagantes. Quero que a ciência do meu
ambiente planeje a sustentabilidade dos meus dias. Quero que a velocidade
angular de minha trajetória seja não somente a razão de meu deslocamento e do
tempo de que necessitei para realizá-lo, mas a consonância e a agregação de
pessoas ao meu redor (e, desculpem os simpatizantes, não quero tantos números).
Quero que o esboço de meu desenho técnico seja o mais imperfeito possível, pois
quem se importa em delimitar linhas de uma vida sem limites? Escalas? Não quero
escalas. Escalas são sinônimos de padrões e, definitivamente, eu não nasci para
viver nos padrões. Não quero aprender que, através de uma reta, eu posso
descobrir equações paramétricas, reduzidas, vetoriais ou gerais, mas sim que de
reta a vida não tem nada. Aliás, eu sou talvez o oposto do que me vejam. Ou,
quem sabe, como disse Manoel de Barros, “tem mais presença em mim o que me
falta”.
E, pra finalizar, sabe do que
eu tenho medo? Eu tenho medo de que, lá no final de tudo, eu olhe para trás com
dor no peito por não ter arriscado mais. É clichê a fala que sugere a não
desistência, a perseverança nos sonhos, mas é a autoajuda mais verdadeira de
que tenho conhecimento. Embora não seja de unânime concordância, é de adesão da
grande maioria o seguimento da vida com o levar de apenas coisas doces (na
medida do possível e quando se tem escolha). Contudo, me vejo em uma situação
bastante delicada desde que ouvi de um grande empresário brasileiro, no jornal
local de minha região, que o jovem deve optar, primeiro, por aquilo que dá
dinheiro. Ele, por exemplo, tornou-se, primeiro, um grande empresário para,
depois, escrever e publicar uma dezena de livros que lhe traziam prazer ao
escrever. Agora: será que aquele que faz engenharia está fadado à riqueza? Não
sei. A mesma linha de pensamento carrego no que tange à minha amada Letras:
estarão fadados todos os seus simpatizantes e estudiosos a uma condição sempre
aquém de um indivíduo das exatas? Acho injusto. Acho injusta essa delegação de
importâncias do mundo contemporâneo. Bando de matemáticos esses que organizaram
o sistema social em que se vive. Afinal de contas, sou muito mais uma
matemática em busca do plano perfeito (com todas as suas dimensões e
possibilidades vetoriais distintas) que me levem, com o máximo de precisão e
mínimo erro relativo, ao encontro de minhas amadas letras que, apesar de
contáveis, seus números não representam a matemática, mas sim a poesia de
possuírem uma sequência que número algum jamais terá a capacidade de expressar.
THIANE ÁVILA.
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