quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Não sei entender

Eu não entendo as forças que regem essa realidade
Definitivamente, não fui planejada para compreender as perdas
Não sei porque colocam a gente aqui
Não sei nem se vida é o que nos norteia
Já estudei tantas coisas
Biologias para todo o gosto
Mas nenhum conceito foi assaz para tirar-me essa agonia
Essa falta de ledice por esse caminho oneroso
Um dia é vida e o outro é morte
Um dia é jovialidade e o outro é velhice
Um dia é saúde e o outro é intumescência morbífica
Que brincadeira de mal gosto essa montanha-russa vitalícia
Não quero mais brincar
Por que não posso escolher estar em outro brinquedo?
Queria muito conhecer quem teve a ideia de criar esse balouço
Essa inevitabilidade do encesto
Exijo a criação de um documento
Um ato constitucional nem que seja militarizado
Quero uma garantia mínima de sobrevivência que não permita o estiolamento apressado
Quero em suas cláusulas a garantia da juventude
De viver todas as sinergias de alacridades que existam
Se a montanha-russa é intransponível
Quero que, para entrar na brincadeira, haja um tempo mínimo
Se me forem garantidas essas exigências, abro mão da tal democracia
Que voltem os moribundos maquinários
Mas que tragam consigo essa desenfastia
Exijo também a aniquilação do cancro humano
Menos sofrimento às saídas
Quero que sejamos, por educação, avisados
Preparados para cada parada, sempre tardia
E exijo, como última cláusula, o direito de visita
A disponibilidade dos outros brinquedos
Para jubilar de quando em vez velhas companhias.

THIANE ÁVILA.

sábado, 25 de outubro de 2014

Não existe recuperação


Não existe recuperação. Não como as pessoas acham existir. Não com o sentido que dão à palavra.
É puro mito a crença de que as pessoas refazem-se após situações lôbregas, superam os percalços de modo a seguir adiante sem danos, sem perdas ou estragos. O ser humano não tem essa capacidade. Todos são como uma onda. Transgredem de uma forma e regressam de outra, trazendo dessa trajetória uma carga residual sem precedentes.
Há uma grande aspiração por essa quimera de recuperação total. De um porvir de passos sem rastros. Da borracha passada no passado. Lamento, mas isso não existe.
Não confundamos recuperação com regeneração. Regenerar-se sim é começar do zero. É desfazer-se de componentes passados e produzir outros, do nada.
Recuperação não. Recuperação é um remendo. É uma costura bem ou mal feita. É o colocar de um tecido de outra cor e textura na falta de um igual ao original. É estar mais preocupado em não deixar rasgado para não aumentar o estrago.
Gosto de histórias manchadas, de livros rasgados e envelhecidos pelo tempo. Coisas assim têm mais valor, mais longevidade. Se as páginas de um livro não estão marcadas ou dobradas é porque a história não prendeu. Pode até ter sido lida, mas não valeu a pena a releitura.

Eu quero ser relida inúmeras vezes. Quero calças remendadas. Quero cicatrizes em todo o corpo. Quero cicatrizes profundas na alma. 

THIANE ÁVILA.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Maldita pressa


Minha vó sempre dizia que quanto menos idade se tem, mais a pressa assola. E é a mais pura verdade. Mal começa o dia e você já quer todos os resultados, todas as suas conquistas.
É que esperar é chato. Esperar não dá garantia de nada. Sou ariana e quero tudo pra ontem. Mal escrevi um poema e quero que ele já tenha muitos leitores. Só que as coisas não funcionam assim. A vida é um amontoado de méritos. Ou você conquista através deles, ou simplesmente não conquista. A dinâmica é simples.
O difícil é encontrar as melhores formas de mostrar o verdadeiro préstimo do que se faz. Não dá para saber se os seus feitos vão ter igual valia para os outros. É bem provável que não.
As palavras podem ter um valor incomensurável a quem escreve e valor nenhum a quem lê. Eis a maior frustração do escritor. Por mais que o escopo da escrita deva ser trabalhado na direção de uma realização silenciosa e pessoal, é tão bom quando se consegue transpor essas barreiras e ser útil para outros.
Voltemos à pressa. Eu tenho pressa. Todos têm pressa. O que nos faz acordar de manhã, aliás, é a pressa. Em maior ou menor grau, ela sempre se faz presente (e deve-se fazer).
Se não houvesse pressa, as coisas não existiriam. Se o comodismo fosse a bola da vez, ainda estaríamos vivemos no neolítico. O aperfeiçoamento de tudo é oriundo da pressa de quem o sacou. É cíclico. A pressa é cíclica. Se você não a tem, há milhares a sua volta que compensarão a sua falta.
A pressa é, certas vezes, maldosa. Não deixa-nos jubilar com maior tranquilidade os resultados de uma pressa precedente. Afinal de contas, novas pressas devem dar lugar às antigas.
E se a pressa não for suficiente? Às vezes ela não é. Mais que ter pressa, é preciso conhecer pessoas que compartilhem do mesmo conteúdo que a move. Só assim é possível colher resultados.
Quem pouca pressa tem é porque já não precisa mais. E esse é um ponto muito importante: existe um montante de pressas necessárias a uma vida. Talvez isso gere algum conforto para os que ainda não atingiram essa quantidade. Quando se conseguiu bons resultados com pressas passadas, os resultados das futuras tornam-se mais fáceis de serem assestados.

Maldita ou bendita, não adianta: tenha pressa. Só lembre-se de dosá-la. Pressa demais faz com que as coisas não sejam bem feitas. A pressa de ser feliz é aquela que já traz consigo o doseamento certo. É como um GPS com todos os mapas baixados, de todas as rotas possíveis. Quando se sabe o caminho, a pressa torna-se aliada.

THIANE ÁVILA.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Quem sabe a chuva trará


Em noites como a de hoje, percebo o quão incapazes somos de evitar algumas coisas na vida
São inexequíveis as ações que despendemos em certos ofícios
A chuva que cai lá fora, trazendo-me alegria ou tristeza, continuará caindo sem me consultar a vontade
As vidas que são levadas para longe de mim não me pedem anuência para partir
Sou completamente inútil nas decisões que abrangem o que me rodeia
Tantas vezes achei que estava no controle de minhas decisões quando, na verdade, elas foram acontecendo por uma lei natural que as levaram àqueles intentos
Não pensemos, contudo, que trata-se de destino
Na verdade, destino não passa de pretexto para a inércia
Mas eu gosto da inércia. Aliás, acho que vivo nela
Todos vivemos na inércia, mas há aqueles que não alijam a sinergia das consequências dela
Embora assim pensada, a inércia não é ruim
Fugir dela, aliás, é impossível
Há outra coisa a fazer senão esperar que a chuva passe?
Há outra coisa a fazer senão aceitar a morte?
Antes de aceitar a morte, contudo, é necessário que aceitemos todas as facetas que nos pertencem
A inércia mais necessária, mas pouco praticada, é essa: a roboração de nosso ser
Aqui, no entanto, não se trata da estagnação diante das derrotas
Diferente disso, refiro-me à capacidade de descobrirmos, em nós mesmos, todas as antíteses que carregamos e fazermos delas a desarmonia mais consonante possível
O grande problema disso tudo é querer escolher por uma coisa ou outra
Não acho que devamos escolher somente uma de nossas personagens quando podemos ser todas elas
Há tantos orgasmos que podemos experimentar com cada uma
Ao final de tudo, não dizem que morremos sem levar nada?
Pois que levemos a imagem de sermos muitos em um só, extremamente adaptáveis às incertezas e às limitações que nos são impostas a todo o momento
Afinal de contas, que vivamos numa inércia que valha a pena
Como sugeriu Manoel de Barros, que possamos nos conhecer experimentando ações que descrevam o nosso inverso
Só assim passaremos a olhar a chuva com jubilidade e a morte com olhos de quem sabe que tudo não passa de uma inevitável inércia a que todos, desde sua promanação, foram inevitavelmente submetidos
Além do mais, a chuva é só mais uma forma de expressar uma noite outrora enluarada
Ela é apenas uma das tantas personagens possíveis de sua própria inércia



THIANE ÁVILA.

domingo, 12 de outubro de 2014

Desabafo de uma estudante de engenharia num caso extraconjugal com as letras


                Quero simplesmente “letrar”. Submergir no mundo das palavras. Derivar não as funções matemáticas, mas o pensamento de meus autores em reflexões diretas de minha vivência diária e de minha situação enquanto ser pensante e agente do mundo. Quero integrar não como uma forma inversa de derivar, mas integrar as minhas noções e suposições modestas ao grande corpo de pensamentos da atualidade. Quero gerar assíntotas verticais que, ao invés de serem expressas em um plano cartesiano, ilustrem, na metáfora dos meus dias, os meus sonhos mais extravagantes. Quero que a ciência do meu ambiente planeje a sustentabilidade dos meus dias. Quero que a velocidade angular de minha trajetória seja não somente a razão de meu deslocamento e do tempo de que necessitei para realizá-lo, mas a consonância e a agregação de pessoas ao meu redor (e, desculpem os simpatizantes, não quero tantos números). Quero que o esboço de meu desenho técnico seja o mais imperfeito possível, pois quem se importa em delimitar linhas de uma vida sem limites? Escalas? Não quero escalas. Escalas são sinônimos de padrões e, definitivamente, eu não nasci para viver nos padrões. Não quero aprender que, através de uma reta, eu posso descobrir equações paramétricas, reduzidas, vetoriais ou gerais, mas sim que de reta a vida não tem nada. Aliás, eu sou talvez o oposto do que me vejam. Ou, quem sabe, como disse Manoel de Barros, “tem mais presença em mim o que me falta”. 
            E, pra finalizar, sabe do que eu tenho medo? Eu tenho medo de que, lá no final de tudo, eu olhe para trás com dor no peito por não ter arriscado mais. É clichê a fala que sugere a não desistência, a perseverança nos sonhos, mas é a autoajuda mais verdadeira de que tenho conhecimento. Embora não seja de unânime concordância, é de adesão da grande maioria o seguimento da vida com o levar de apenas coisas doces (na medida do possível e quando se tem escolha). Contudo, me vejo em uma situação bastante delicada desde que ouvi de um grande empresário brasileiro, no jornal local de minha região, que o jovem deve optar, primeiro, por aquilo que dá dinheiro. Ele, por exemplo, tornou-se, primeiro, um grande empresário para, depois, escrever e publicar uma dezena de livros que lhe traziam prazer ao escrever. Agora: será que aquele que faz engenharia está fadado à riqueza? Não sei. A mesma linha de pensamento carrego no que tange à minha amada Letras: estarão fadados todos os seus simpatizantes e estudiosos a uma condição sempre aquém de um indivíduo das exatas? Acho injusto. Acho injusta essa delegação de importâncias do mundo contemporâneo. Bando de matemáticos esses que organizaram o sistema social em que se vive. Afinal de contas, sou muito mais uma matemática em busca do plano perfeito (com todas as suas dimensões e possibilidades vetoriais distintas) que me levem, com o máximo de precisão e mínimo erro relativo, ao encontro de minhas amadas letras que, apesar de contáveis, seus números não representam a matemática, mas sim a poesia de possuírem uma sequência que número algum jamais terá a capacidade de expressar.



THIANE ÁVILA.

Um chute no escuro



Olá, pessoal!

Bem, a criação do blog "Ensaio de Letras" foi uma iniciativa minha de encontrar um meio pelo qual eu possa extravasar um pouco minhas ideias e, de alguma forma, compartilhar com mais pessoas, e não só meus amigos ou familiares, textos e artigos de minha autoria. Sou uma gaúcha, até segunda ordem estudante de engenharia, e amante dos livros da forma mais intensa possível.

O Ensaio de Letras terá como finalidade a publicação de textos de temas variados, mas que terá como âmago a nossa prezada literatura brasileira, seja através da criação de postagens de assuntos já na mídia ou, aproximando-se mais da poesia, a coisas que recorram a reflexões e pensamentos de figuras célebres do nosso acervo cultural (ou mesmo minhas). Não há, contudo, a pretensão de haver excepcional maestria ou rara originalidade em tudo o que será escrito, mas será feito grande esforço para que esse fim seja atingido.

Em suma, o blog foi criado especialmente aos amantes de leitura e àqueles que gostam de apostar em estilos novos. Tenho séria convicção de que a internet, atualmente, é um excelente meio de transmissão de pensamentos e permite que exercitemos com total liberdade nosso direito de escolha. Com relação a isso, portanto, é válido ressaltar que não tenho a ilusão de que agradarei sempre a todos com minhas palavras, tampouco com minha forma de escrever, todavia, a intenção é puramente incitar, de forma ascendente, o gosto pela leitura e o desejo de que o conhecimento de nossa literatura seja cada vez mais incorporado em nossas ações corriqueiras.

O leitor perceberá, no decorrer de minhas postagens, grande inclinação a alguns nomes literários de peso. Tenho, como qualquer simpatizante de qualquer tipo de leitura, minhas preferências e, por isso, volta e meia acabarei citando referências de autores que marcaram e marcam de forma intensa minha vida enquanto leitora. Os nomes, no entanto, não vão ser discriminados, pois cada e todo autor possui sua contribuição no universo literário que nosso país construiu desde que começamos a escrever por aqui.

Espero que gostem das minhas postagens e se identifiquem com elas, já que a satisfação de todo aquele que escreve está em ser útil, de alguma forma, às pessoas que o leem. Fiquem à vontade para comentar e curtir o blog. Ficarei sempre muito feliz com as críticas de toda a origem àquilo que escrevo, desde que sejam sempre construtivas.

Grande abraço a todos e boa leitura!

THIANE ÁVILA.