A metralhadora de existências massacra o curral das lembranças. Não há
espaço para as experiências. O tempo míngua em antagonismo com as premências.
Um infortúnio aos pagadores de injúrias. Uma pena aos excessivos de vivências.
Borges já pressentiu ser a criação uma experiência da memória, mas nem
toda a memória uma experiência da criação. Há tantos subordinados vivos da
morte. Preocupações aleatórias de uma falta de planejamento secular. Uma rotina
deliberada rumo ao não solucionamento de nada. Morrendo com excesso de vida.
A vida, pois, é doença contagiosa. Memórias, a Nejar, são projeções de
eternidade. Santas promanações memoriais jogadas fora pela escassez
intempestiva das horas, que desfortuna as almas com sede. Precoce partida da
vida que tanto tem a contribuir. Tardio desaparecimento da existência que não
agrega.
O conhecimento pode matar a ação. Mutilados já foram pela demasia
demanda de sonhos e inventos, cuja realidade não chega nem aos pés. Voltar,
pois, ao tempo fabuloso dos começos para organizar orgias entre gênios.
Garantia de continuidade da raça. Literatura escrita no código genético.
Mitos em constante guerra com as verdades que, mais tarde, também
transformam-se em mito. Míngua do tempo que obriga a reserva da história. O
enlace de novos enredos que somam. A realidade se inventa no que falta.
Tudo ao ser nomeado é vivo. Não há desexistência em neologismos. Toda a
sinapse que procria é vida em potência. Dicionarizar a existência é uma mera
premência de ordem. Poesia é, no entanto, desordem. Poeta não consta no
dicionário.
O hiato dos extremos é a felicidade. Breve e resplandecente clarão de
ingenuidade que inunda a genialidade pausada pelo tempo que, não bastasse,
ainda míngua. Não há saída na procura da catarse. Semblante de luz já se fez
escuridão no intervalo entre início e o fim dessas palavras.
THIANE ÁVILA.
Parceria ? http://bibliotecaonlinedow.blogspot.com.br/
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